quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A colcha de retalhos da Casa de Mulheres de Viçosa




Contar uma parte de sua história ou sonho costurando com retalhos.
Esta foi a proposta pedagógica da casa de Mulheres de Viçosa que presta atendimento às mulheres vítimas de violência.
Eu a vi pela primeira vez numa ação desenvolvida por um grupo de estudantes da UFV no Conjunto habitacional onde moro nas Coelhas.
Tratava-se antes de tudo do desejo de chamar a atenção das pessoas para o que acontece dentro das famílias que sofrem com a violência familiar.
Suas maiores vítimas são as mulheres e seus filhos.
Percebi que as mulheres contavam de forma quase infantil seus dramas, sonhos desfeitos e planos para o futuro no formato dos desenhos, nas cores que escolhiam e nas figuras que recortavam.
Elas desenharam bolsas, onde talvez estivesse tudo o que elas tinham seus documentos, fotos dos filhos e talvez algum dinheiro.
Quem sabe sua identidade?
Desenharam igrejas,
Quem sabe fosse onde buscassem refúgio?
Uma casa com um pássaro ameaçador no telhado.
Quem sabe, o agressor?
Uma criança num balanço amarrado numa arvore, alguns animais como cães e gatos. Quem sabe um lar?
Uma figura acorrentada junto de uma mesa posta para uma refeição e um casal.
Quem sabe ilustrando uma relação de poder?
Casas enfeitadas com borboletas, mais de uma vez.
A casa poderia significar segurança e liberdade de ser?
Percebi que alguns detalhes são recorrentes; como a presença de borboletas nos desenhos como se todas esperassem por uma transformação.
Transformação de bichinho feio em algo bonito e alado,
Que tem asas para voar para longe de situações tristes e ameaçadoras.
Quisera eu saber o significado de todos os desenhos.
Eu vi e senti uma colcha de retalhos feita por mulheres que sofreram violência.



Lucinéa de campos
(Moradora do Conjunto Habitacional Benjamin Cardoso - Coelhas)



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